Vila Nova de Famalicão – o cruzamento industrial no norte de Portugal
10.11.2025 / 12:47 | Aktualizováno: 01.12.2025 / 12:55
Um dia, chegou à Embaixada da República Checa em Lisboa um convite discreto para visitar Vila Nova de Famalicão, acompanhado de uma proposta de preparação de um programa que permitiria conhecer melhor a cidade do ponto de vista comercial e cultural. Ao olhar para o mapa, ficou claro que esta cidade devia esconder algo muito interessante que valia a pena explorar em termos de possíveis oportunidades económicas.
A cidade é, de facto, a porta sul da província do Minho e o último ponto de referência da província para quem chega do norte de Portugal e da região espanhola da Galiza, como referido em vários guias turísticos. Diz-se que, desde tempos antigos, a sua localização excecional motivou a passagem e o assentamento de diversos povos, que deixaram marcas das suas viagens e culturas neste território, ainda hoje facilmente visíveis. O concelho faz fronteira a norte com Braga, a leste com Guimarães, a sul com Santo Tirso e Trofa, a oeste com Vila do Conde e Póvoa de Varzim e a noroeste com Barcelos. Graças à sua localização privilegiada, Vila Nova de Famalicão é hoje servida por uma rede de estradas modernas, com um dos mais importantes nós rodoviários do país – Porto–Vigo (autoestrada A3) e Guimarães–Póvoa de Varzim (autoestrada A7) – bem como por ligações ferroviárias diretas para Braga, Guimarães, Porto, Vigo, Coimbra, Lisboa e Algarve, o que nem todas as cidades portuguesas podem afirmar.
Uma cidade agradável para viver, mas sobretudo para fazer negócios e investigação científica
Por isso, a conselheira económica Kateřina Bocianová, sediada em Lisboa, apanhou o comboio rápido Alfa Pendular e dirigiu-se para o norte. Três horas depois, chegou a Vila Nova de Famalicão, onde foi calorosamente recebida na câmara municipal pelo vereador da cooperação económica, científica e tecnológica, Augusto Lima, e pela chefe do departamento de planeamento estratégico e relações internacionais, Paula Peixoto Dourado. Durante a apresentação institucional na sede do Famalicão Made In, que funciona como um espaço de encontro e apoio institucional ao desenvolvimento económico da região, foram partilhadas informações verdadeiramente interessantes. A cidade aposta numa cooperação internacional ativa, possuindo relações com 157 cidades de 56 países e, juntamente com o norte de Espanha – a Galiza – forma uma euro-região. Graças a esta cooperação e à moderna visão europeia da “cidade de 15 minutos”, Vila Nova de Famalicão pode orgulhar-se de que tudo se encontra, a pé ou de bicicleta, num raio de 15 minutos, proporcionando uma qualidade de vida muito superior à das grandes cidades sobrepovoadas. Atualmente, a cidade tem cerca de 130.000 habitantes, dos quais aproximadamente 90.000 em idade ativa (15–64 anos). Daí resulta que o município dá grande ênfase à educação e à formação adequada da geração jovem, que, assim, permanece na região em vez de partir para o estrangeiro.
Os dados económicos também surpreendem quando comparados com as estatísticas nacionais. Vila Nova de Famalicão acolhe as sedes de algumas das maiores e mais importantes empresas do país em setores como têxtil e calçado, indústria automóvel, agroalimentar, construção, eletrónica e engenharia mecânica. Isso faz com que a região seja a 3.ª mais exportadora de Portugal, ocupe o 2.º lugar em termos de saldo comercial e se encontre em 1.º lugar no que respeita ao valor acrescentado bruto devido às suas indústrias locais. E isso não é tudo. A cidade dedica especial atenção ao desenvolvimento de um sistema de inovação que inclui tanto o apoio a centros de investigação como às universidades com diversas equipas científicas.
O ecossistema inovador de Famalicão como porta de entrada para a investigação checa
Para que tudo não ficasse apenas na teoria, foi organizada uma visita a vários centros de investigação e ao pólo da Universidade do Minho. O primeiro centro visitado foi o CeNTI – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes. Fundado em 2006 como um instituto de investigação privado, sem fins lucrativos e “multissetorial”, resultou da cooperação de três universidades portuguesas – Universidade do Minho, Universidade do Porto e Universidade de Aveiro – e de várias instituições tecnológicas. O CeNTI está equipado com tecnologia de ponta e o seu trabalho centra-se na investigação aplicada e na transferência de tecnologia para a indústria. O instituto concentra-se em nanotecnologia, materiais avançados e sistemas inteligentes, engenharia de produto e transferência tecnológica para empresas. As principais áreas de atuação incluem a indústria automóvel e aeronáutica, a construção, a arquitetura e os espaços inteligentes, a saúde, a biotecnologia e também o armazenamento e produção de energia. O instituto desenvolve e valida novos materiais e tecnologias de valor acrescentado que podem ser incorporados em produtos e mercados tradicionais, ao mesmo tempo que apoia ativamente o desenvolvimento da infraestrutura tecnológica e da inovação a nível nacional e internacional. O CeNTI emprega cerca de 160 investigadores, envolve mais de 400 projetos colaborativos e gere mais de 50 famílias de patentes ativas.
O segundo centro visitado foi o CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal. Trata-se de um centro tecnológico com filiais no Brasil, Tunísia, Argentina, Paquistão, Chile e México. Desde a sua criação em 1989, apoia sobretudo pequenas e médias empresas do setor têxtil e do vestuário através de testes laboratoriais, certificação de produtos, consultoria técnica e tecnológica, investigação e desenvolvimento com foco na inovação, formação e design. É uma instituição fundamental para a estratégia oficial da cidade de transformar Vila Nova de Famalicão numa referência de excelência da indústria têxtil moderna e inovadora a nível internacional. As atividades de investigação e inovação do CITEVE estão concentradas em três áreas principais: transição verde, transição digital e desenvolvimento de portefólio de produtos. Atualmente, o centro desenvolve 66 projetos financiados por fontes nacionais e europeias, incluindo iniciativas dedicadas à bioeconomia têxtil, digitalização da indústria do vestuário, redução do consumo de água, descarbonização, plásticos sustentáveis, inovação em saúde e têxteis inteligentes. O CITEVE apoia também o surgimento e o desenvolvimento de clusters industriais, como o Portuguese Textile Cluster, o Health Cluster Portugal e o MOBINOV no setor automóvel.
A última paragem foi o pólo da Universidade do Minho (sedeada em Braga), que acolhe centros académicos de investigação como o CEB – Centro de Engenharia Biológica, o FOODPRO.Lab, o GREEN.Lab e também o CMEMS – equipa dedicada a microssistemas eletromecânicos, incluindo semiconductores.
Interesse ativo em criar ligações com a Chéquia e as cidades checas
Todas estas visitas mostraram que esta cidade mais pequena esconde um enorme potencial. Surge então a questão de como este potencial poderia ser aproveitado no relacionamento com a Chéquia ou com alguma cidade checa. Durante as visitas e conversas intensas com os especialistas e cientistas presentes, surgiram várias propostas interessantes. Os representantes de Vila Nova de Famalicão manifestaram interesse em estabelecer cooperação e reforçar a parceria com a cidade de Liberec e com a Universidade Técnica de Liberec, especialmente nas áreas da indústria têxtil e da nanotecnologia. Além disso, outras áreas de cooperação revelaram-se promissoras, como a biotecnologia – concretamente, possíveis ligações ao cluster Prague Bio e outras instituições. A Embaixada da República Checa em Lisboa prepara, para a primavera de 2026, um projeto de diplomacia económica no domínio da biotecnologia, e os representantes locais, tanto do CeNTI como da Universidade do Minho, transmitiram um convite pessoal para a delegação que está a ser organizada. Por fim, destacou-se também um tema atualmente muito debatido: os semicondutores. Professores da Universidade do Minho expressaram o desejo de conhecer pessoalmente o ecossistema de semicondutores na Chéquia, que, segundo várias recomendações a nível europeu, consideram um parceiro muito interessante para a cooperação.
Dr. Kateřina Bocianová, diplomata económica
