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Jan Antonín Baťa, colonizador do MS

A história verdadeira do emprendedor tcheco Jan Antonín Baťa, o fundador e idealizador de mais de 80 cidades por todo mundo das quais somente no Brasil encontram-se Bataguassú, Batayporã, Batatuba, Mariapolis, Indiana, está sendo redescoberta não somente no Brasil, mas também na própria República Tcheca, país de origem desse grande homem.
 

Quem foi o Jan Antonín Baťa?

As palavras do Jindrich Trachta, o "colaborador" dele no Brasil caraterizam bem a personalidade do Jan Antonín Baťa:

"A vida é uma sucessão de experiências que sempre trazem aprendizado. Nessa marcha de altos e baixos quando chegamos ao fim do caminho quase sempre cansados, esquecemos de prestar atenção no que está sendo deixado para a posteridade. É assim que a maioria das pessoas passa pela vida deixando quase nada. Perde tanto tempo como se fosse pródigo nele... como é importante o tempo... quem é que sabe quando o caminho vai terminar?"
Eu conheci um homem para quem a vida foi o mais fantástico campo de trabalho, possibilidades, realizações e provas. Um dia perguntaram a esse homem, admirando o seu trabalho:
- Como, então Dr. Bata, o Sr. constrói impérios?
- Não. – respondeu Jan Baťa - ... eu construo homens..

Segundo uma outra história, que relata bastante sobre o Jan Baťa, nos anos 1920, ainda como jovem agente comercial, o Jan foi enviado pela empresa Bata para analisar as posibilidades de mercado nos países do terceiro mundo. E enquanto os relatórios de outros agentes da empresa foram céticos, do gênero: "Aqui ninguém usa sapatos, sem possibilidades futuras no mercado", os relatórios de Jan Bata foram otimistas: "Grandes oportunidades de mercado, ninguém tem sapato."

Jan Antonín Baťa nasceu em Uherské Hradiste no dia 7 de março de 1898 na Moravia, região histórica do Reino tcheco, na época parte do império dos Habsburgos, hoje a República Tcheca aos pais Antonín Baťa e Ludmila. Tendo ficado órfão de pai aos oito anos, é educado em Zlín com os outros irmãos pelo meio irmão – tio Tomas Baťa, 22 anos mais velho, já um próspero fabricante de calçados. Os meninos estudam e aprendem o ofício de sapateiros, na família desde 1576. Aos 12 anos o jovem Jan Antonin já exerce algumas atividades na fábrica, aprendendo e se interessando por tudo. Aos 17 é enviado à Alemanha para se empregar em algumas firmas, também de calçados, observar tudo o que pudesse aprender ganhando assim maior experiência. Ao voltar para Zlín seu treinamento se intensifica.

Após a 1ª Guerra Mundial, Jan viaja para os Estados Unidos com a missão de abrir uma filial de manufatura de calçados em Lyn no Estado de Massachussets. Em 1920 volta para a Tchecoslováquia e casa-se com Marie Gerbecová, filha de um médico, dileto amigo de Tomás. Desse casamento nascem cinco filhos Jena, Ludmila, Edita, Jan Tomás e Maria. É após o nascimento da filha Edita em 1925 que Jan Antonín conhece pela primeira vez o Brasil, e se encanta com o país e o povo brasileiro.

De volta a Zlín, já é há algum tempo o braço direito do irmão Tomás a quem admira profundamente; os anos que se seguem são de muito labor e disciplina na paciente construção de um sistema empresarial inédito nascido e elaborado pelo gênio empresarial de Tomás Bata, que ainda, durante sua vida, foi aperfeiçoado juntamente com outro gênio, seu irmão Jan Antonín. Em 1929 ocorre a grande crise de Wallstreet, a quebra da bolsa de Nova York, quando o sistema financeiro mundial entra em colapso, mas a empresa de Zlín escapa ainda mais forte. É uma ilha de prosperidade no mar de náufragos e desemprego. A tese de Jan fica provada: - “Dinheiro é feito para trabalhar, ser investido em produção e não em especulação“. 

Após a morte de Tomás, ocorrida no trágico acidente de aviação em 1932, Jan cumpre a vontade expressa de seu tio Tomás Bata, e assume a propriedade e o comando de todas as empresas Bata na Tchecoslováquia e no exterior. As origens da futura disputa familiar entre o Jan e seu sobrinho Tomas Bata Jr. estão aqui.

Em poucos anos multiplica dez vezes o numero de empregados da empresa Bata na Tchecoslováquia. Em 1938 já são 118.000 empregados. Dedica a vida na ampliação do empreendimento pelo mundo desenvolvendo tecnologias revolucionárias e calçando cidadãos de 89 países.

Dentro da filosofia que foi educado desde menino, revoluciona as relações entre capital e trabalho numa antecipação de décadas às conquistas mais espetaculares que qualquer conjunto de trabalhadores tinha conseguido alcançar em qualquer parte do mundo. Jan Antonín transforma a empresa, fundada e criada pelo irmão e tio Tomás Bata, no maior complexo industrial de calçados do planeta.

Nos países onde instala suas empresas o Bata investe nos seus empregados. Chama-lhes colaboradores. Os resultados de sucesso florescem tanto que começam a despertar preocupação nos concorrentes, cujo sistema capitalista, corrente no mundo ocidental, é baseado na exploração do homem pelo homem.

Em Zlín, ao contrário, o trabalho visa o bem estar de todos e não apenas o de alguns. Há motivação, um sentimento de responsabilidade, seriedade e devoção que norteia a todos, afetando escritórios administrativos, oficinas, secções de manufatura, engenharia, construção, mecânica, tecnologia e todos os segmentos de serviços em uníssono. Todos os empregados se sentem parte de uma grande força empresarial sem par no mundo naquela época. As necessidades da educação, saúde e previdência são atendidas.

Os empregados ou colaboradores são incentivados a investir uma parte dos seus salários nas ações  da empresa. No fim do ano os lucros são distribuídos, 7% aos diretores e 10% aos colaboradores. O Bata constrói um Instituto Tecnológico que é uma espécie de universidade popular para  os operários e os filhos deles em uma fonte dos futuros especialistas da empresa. Cientistas de diversas áreas procedentes de toda a Europa são convidados e integram seus quadros. Numa época onde o socialismo e as leis trabalhistas ganham espaços cada vez maiores como conquista das classes trabalhadoras frente ao capitalismo selvagem, no sistema empresarial do Bata são completamente insignificantes e inócuas porque de há muito foram superadas.

Em 1936 é construído o prédio da administração de 17 andares na matriz em Zlín, um primor de arquitetura e tecnologia, o mais alto prédio da Tchecoslováquia. Para administrar o seu tempo de forma mais eficaz, coloca seu escritório dentro de um elevador especialmente projetado para visitar todos os andares da administração de forma a otimizar o tempo de todos.

No final dos anos 1930 alerta sobre o perigo nazista. Após a traição da Tchecoslováquia pelos seus aliados em Munich em setembro de 1938 depois da qual o país terá que ceder as regiões fronterizas com a maioria da população alemã à Alemanha do Hitler e se torna de fato indefensível o Jan Baťa propõe ao governo tchecoslovaco transferir(!) o estado (da Tchecoslováquia) para o Brasil onde já tinha comprado os terrenos no MS. Curiosamente, essa fantasia surrealista do Baťa pouco depois é usada contra ele para comprovar a sua colaboração com o inimigo.

Antes e durante a invasão da Tchecoslováquia pelos Nazis o Bata usa a sua empresa para salvar a vida de centenas de seus colaboradores entre eles inúmeras famílias de judeus, criando uma empresa de exportação de nome KOTVA. Além de transferir maquinário, recursos, matérias primas e até fábricas inteiras, sob as barbas de Hitler e seus comandados, consegue fazer emigrar seus trabalhadores de origem judaica.

Apesar de durante a Segunda Guerra Mundial, Jan Bata contribui substancialmente para o esforço de guerra aliado e apóia financeiramente o governo da Tchecoslováquia ele e a sua família sofre por causa da guerra uma enorme mudança. O conflito mundial deu uma oportunidade de ouro para os concorrentes comerciais e seus governos para destruir a gigantesca Bata SA, uma das maiores empresas do planeta. Em 1941 leva um choque ao ser informado que o seu nome é colocado pelos aliados na chamada "lista negra“ de apoiadores de inimigo. Para se proteger muda-se com a família dos EUA para o Brasil e perplexo diante de tamanha infâmia, quer saber por que.

O segundo golpe vem logo apos guerra em 1945 quando a Bata SA em Zlín e todas as empresas de Jan na Tchecoslováquia, são nacionalizadas, sem qualquer indenização.

Em 1947 Jan Bata é acusado perante o Tribunal Nacional de Praga de 64 crimes contra a nação e sua extradição é pedida ao Brasil. Antes do prazo é naturalizado brasileiro por interesse nacional através de decreto assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra. No processo irregular é absurda a sentença definitiva: Quinze anos de trabalhos forçados e o confisco de todos os bens.

O Itamaraty recebe um relatório assinado pelo embaixador brasileiro Décio Coimbra, que tendo acompanhado o julgamento, descreve-o em detalhes denunciando a farsa de que Jan Bata, agora cidadão brasileiro, fora vítima. O governo brasileiro protesta na pessoa do Secretário Geral do Ministério de Relações Exteriores, embaixador Hildebrando Accioly ao governo da Tchecoslováquia, solicitando que o cidadão brasileiro Jan Antonín Bata seja julgado de acordo com as leis e praxes internacionais, ação que não teve seqüência.

Mesmo assim, ainda reúne todas as forças - forças de um gênio, sem dúvida – para se lançar à obra gigantesca de colonizar as regiões Oeste de São Paulo e Sudeste de Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, resultando desse trabalho quatro cidades: Batatuba e Mariápolis no Estado de São Paulo e no Estado do Mato Grosso do Sul , Bataguassú e Batayporã. Em terra de sua propriedade no MS assenta 100.000 pessoas em 300.000 hectares. Até no Brasil está sendo constantemente assediado e perseguido por seus adversários, principalmente seu sobrinho, Tomas Bata Jr., filho do querido irmão Tomás Bata, o fundador da fábrica de calçado Bata, de quem tem o mesmo nome.

Entre 1942 e 1962 é Jan Antonín Bata afastado de todos os recursos financeiros próprios obtidos ao longo de 30 anos de trabalho, através de ações judiciais vitoriosas à custa de fraude e perjúrio, com a conivência criminosa dos diferentes governos no mundo. Finalmente em 1962, Jan Bata é obrigado assinar um acordo em favor do sobrinho Tomas Bata Jr. o filho do querido irmão Tomás Bata, o fundador da marca Bata, por uma quantia simbólica.

Em 23 de agosto de 1965 Jan Bata falece no hospital Beneficência Portuguesa em São Paulo, após o oitavo enfarte.

É feito o translado para Batatuba. Já passa das 23 horas e apesar da noite fria, os dois lados da estrada, desde a capelinha até o acesso à residência de Jan, as pessoas que vieram de longe, se perfilam e acenam, se agrupam e numa fila até sua casa, carinhosamente atiram flores para "o Dr. Bata passar" pela última vez.

Os sonoros toques secos de sua pequena máquina de escrever cessam. Foram escritos cinqüenta e oito livros de idéias geniais e primitivas, muitos inéditos, entre eles romances e poemas. A laboriosa lapiseira Parker, companheira de seus pensamentos, registra o último deles: "Apesar da fraude e do perjúrio, a verdade virá à tona como o óleo sobre a água".

No ano de 2007, precisamente sessenta anos após a condenação de Jan Antonín Bata pelo tribunal popular da Tchecoslováquia, por iniciativa da cidade de Zlín na República Tcheca, é inaugurada uma estátua em homenagem a ele, assim como seu trabalho é apresentado numa grande conferência, que mobiliza toda a imprensa do país.

No dia 25 de junho de 2007, a sentença que o havia condenado em 1947 é anulada e em 15 de novembro do mesmo ano Jan Antonín Bata é finalmente reabilitado na República Tcheca. Como havia preconizado em seu leito de morte 42 anos antes, a verdade veio à tona como o óleo sobre a água...


Fonte: Centro de Memória Jindrich Trachta - Batayporã; Embaixada da República Tcheca em Brasília

Anexos

2012_11_10 Folha J.A.Bata Zlin 725 KB PDF (Documentos Adobe PDF) 17/ago/2015

Galeria


Jan A.Bata