
DECLARAÇÃO DA SRA. PAVLA HAVRLÍKOVÁ, EMBAIXADORA DA REPÚBLICA TCHECA NO BRASIL SOBRE LÍDICE
10.06.2024 / 15:14 | Aktualizováno: 10.06.2024 / 15:28
DECLARAÇÃO DA EMBAIXADA DA REPÚBLICA TCHECA NO BRASIL SOBRE LÍDICE
Por Pavla Havrlíková, embaixadora
Em 10 de junho, lembramos, como todos os anos, um dos momentos mais trágicos da história da República Tcheca. Neste dia, em 1942, a cidade de Lídice foi incendiada e completamente destruída pela Alemanha nazista.
Naquela época, 173 homens foram fuzilados na vila, as mulheres foram internadas no campo de concentração de Ravensbrück e as crianças, exceto algumas selecionadas para a germanização e outras com menos de um ano, foram assassinadas pelos nazistas com gás. No total, 340 moradores de Lídice morreram.
Após o fim da guerra, apenas 143 mulheres e 17 crianças voltaram à sua terra natal. E a tragédia foi motivada pela suposta ligação de um dos habitantes de Lídice com o assassinato de Reinhard Heydrich, o representante do protetor do Reich.
A brutalidade perpetrada pelos nazistas chocou o mundo e gerou uma resposta global de condenação, com impacto simbólico e político profundo para o reconhecimento diplomático do governo tchecoslovaco no exílio e seu estatuto internacional. Em rápida sucessão, o Uruguai, Cuba, o Peru, a República Dominicana e o Brasil reconheceram o governo tchecoslovaco. No início de 1943, o Equador, a Colômbia, a Venezuela e o Chile seguiram o exemplo.
Em memória dessa tragédia, várias cidades ao redor do mundo foram renomeadas. No Brasil, um vilarejo do estado do Rio de Janeiro, Vila Parado, anteriormente chamado Santo Antônio do Capivari, adotou em 1944, exatamente há 80 anos, o nome de Lídice, homenageando dessa forma a cidade tchecoslovaca.
Não é por acaso que um ano após a mudança de nome de Vila Parado, nasceu nela o primeiro menino que recebeu o nome do Eduardo Beneš, o então presidente da Tchecoslováquia no exílio - Eduardo Benes de Oliveira. Ao mesmo tempo estima-se que existam cerca de 500 mulheres com o nome Lídice morando no Brasil.
Alguns anos depois, em 1967, foi criada a Exposição Internacional Infantil de Arte Plástica de Lídice para homenagear a memória das crianças vítimas da aldeia tcheca e de todas as outras crianças que morreram em conflitos de guerra.
Esta exposição, originalmente nacional, tornou-se internacional em 1973 e ao longo de sua história ganhou grande reconhecimento entre crianças e professores ao redor do mundo. Nos últimos anos, mais de 13 mil obras de arte de alta qualidade, não só da República Tcheca e da Eslovaca, mas também de mais 70 países do mundo, entraram regularmente na exposição.
Em 2018, a exposição recebeu o importante prêmio Gratias Agit, concedido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Tcheca, por elevar o nome do país no exterior.
No Brasil, em vários estados da federação, escolas e crianças participam anualmente desta exposição de arte, recebendo menções honrosas. Em 2023, três alunos do Colégio de Santo Américo de São Paulo, conquistaram a Medalha Rosa Lídice.
Em 2024, contabilizaram-se 23 escolas de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, com mais de 180 obras em exposição, e entrega de 3 menções honrosas.
Para relembrar o trágico acontecimento, também será realizado um evento em Brasília no dia 11 de junho de 2024, com a presença dos representantes do Executivo e Legislativo, além da coordenadora da exposição Lídice no Brasil, Sra. Maria Luiza Malina.
Três exposições nos lembrarão desse marco: a primeira, mapeia a história da cidade tcheca, a segunda com fotografias da Lídice brasileira de 1944, quando a cidade adotou seu nome atual, e a terceira com obras de crianças brasileiras que participaram do referido concurso internacional nos anos anteriores.
A tragédia de Lídice deve permanecer para sempre como um lembrete dos horrores da guerra, dos quais nem mesmo o mundo contemporâneo está isento, mas que esperamos que nunca se repitam.
Brasília, 10 de junho de 2024.